Conheci uma pessoa no consultório, não posso obviamente dizer seu nome. Mas uma batalhadora, perdeu 40kg. Ela é linda, impressionante, cheia de energia. A vida está outra, cheia de possibilidades, esperanças e entusiasmo. O caminho não foi fácil, depois da bariátrica, cirurgia de dermolipectomia, várias... e, claro, reeducação alimentar. A luta de tantas pós-cirurgicos me deixou consternada e admirando a força de vontade dessa jovem. Muitos teriam desistido, mas aí veio-me a percepção... quem se submete à tais procedimentos, não tem escolha: não há volta, não dá pra desistir e não suportar as cirurgias, não dá pra não comer pouquinho, não dá... é inevitável.
Então, não se fazendo a reeducação alimentar, escolhendo os grupos de alimentos, as porções, o número de refeições por dia... inevitavelmente, não teremos escolha em fazê-lo após a bariátrica. Segue-se, forçosamente, uma alimentação comedida, pois há um obstáculo físico nos impossibilitando de comer. Ou seja, só se freia a compulsão pela impossibilidade física-fisiológica. Mas não foi essa última constatação que me deixou perplexa... e sim a clareza de que se você não fez a reeducação antes, depois, invevitavelmente, deverá fazer! Agora... para isso, se é inevitável, será que precisamos da cirurgia para embarcar no mundo da reeducação alimentar? Se depois da cirurgia você vai ter que fazer o que deveria ter feito antes?Para o resto da vida hem... vai mudar o estilo de vida, forçosamente. Se há essa compreensão de que vai haver uma mudança radical na alimentação, por que não começar agora e assim dispensar a cirurgia que faz com que praticamente aniquilemos um orgão? É como uma mutilação...É uma mudança de vida que só ocorre posto que atrelada à uma mutilação restritiva. Parece-me um preço muito alto.
Vi uma amiga perder além do estômago, a vesícula, os cabelos, as unhas....
Para comer menos... para comer menos... está aí... meus orgãos.
Mudar é difícil... muito. Mas é mais difícil a dor de não conseguir mudar e de não tentar mudar.
Para as que conseguiram passar por todas as agruras da redução, meus parabéns! Vocês são heroínas! Mas quero pedir uma coisa: não tratem uma cirurgia como essa como receita de bolo que você distribui a todos... A radicalidade envolvida e o trauma físico, irreversível muitas vezes, não torna o procedimento adequado a todo mundo. E, se a compulsão estiver como figura central da problemática, a meu ver, está contraindicada.
Vi um amigo uma vez dizer "Doutor, o senhor deveria operar a cabeça da pessoa também, né não?" A brincadeira, na verdade, foi um apelo... um alerta... muitos também engordam depois da redução... A brincadeira, queridos, não é brincadeira.
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