O cancer de
mama atualmente é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo, a exceção são
os casos de pele não melanoma. De acordo com a Americna Cancer Society dentre
as sobreviventes guerreiras cerca de 120.000 a 600.00 sofrem com as consequências
decorrentes do tratamento e do pós-operatório. Essa tabelinha do INCA está atualizadíssima e
nos alerta com muita propriedade.
Fonte: http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/deteccao_mama_2012.pdf
Importante
ressaltar que mulheres com histórico de câncer de mama na família já devem
começar a fazer sua mamografia aos 35 anos de idade. Particularmente comecei aos
39 anos. Bem, e a fisioterapia? Qual o
papel da fisioterapia para esses pacientes?
Em primeiro lugar, somos os amigos, parceiros, “psicólogos”, consoladores, atenuadores das dores emocionais compreendendo as angústias da fase da negação, da não aceitação.
Tenho pacientes
que dizem que não querem sequer olhar o membro com linfedema, pois este os
lembra do big C. Cancer acaba por se tornar “a doença”... “aquela doença”,
impronunciável... elas sentem-se como se
estivessem sendo punidas (os), ou amaldiçoadas (os).
Segundo, uma
avaliação minunciosa.... ultrassom com doppler... e se possível um exame
cintilográfico. Linfedema se trata com vasos e coletores linfáticos pérvios.
Além do fato de que não se trabalha somente com o retorno linfático, por isso
se chama reabilitação linfovenosa. Estabelecer precocemente padrões de “derivações”
que não existem e estressar valvas, linfangions, é contraproducente além de
agressivo. Por isso no pós-operatório imediato, não adianta “drenar agora para
o outro lado”... sem compensações e anastomoses que se formarão a médio e longo
prazo, esse tipo de conduta só ocasiona lesão vascular. O que piora a situação.
Terceiro,
queridos, a drenagem linfática é um aspecto do tratamento, uma das abordagens.
Costumo chamar a TFC (Terapia física complexa) de Terapia Física Completa.
Acredito ser mais adequado, pois não há nada de complexo, e sim várias
abordagens que se completam. Os exercícios linfomiocinéticos são indispensáveis!
A compressão adequada, segundo orientação de seu médico angiologista
(linfologista) é fundamental. As malhas de compressão podem ser confeccionadas
com o gorgurão, ou pode-se adotar as Sigvaris. Sem compressão a drenagem é
contraproducente.
Quarto, a
fibroesclerose, a fibroaderencia, a diminuição da pressão coloidosmótica devem
ser focadas, é imprescindível o tratamento dessas disfunções. Linfedema grau II
e III são tratados como irreversíveis na escala de Mowlem. Tudo bem que o
membro sempre vai tender a aumentar de volume, tanto pela condição de disfunção
linfática e ainda se houver relaxamento da terapêutica. Mas, preciso fazer um parêntese
importante, ESSE LINFEDEMA GRAU II E III PODE SIM RETROCEDER. Não precisa haver
a desarticulação do membro já que o paciente terá linfedema crônico. Esse paciente tem o direito de ter acesso a
esse tratamento pelo SUS, mas infelizmente isso ainda não tem acontecido, pelo
menos aqui no meu querido estado. No entanto, os hospitais, cirurgiões podem
procurar e compreender melhor o que a fisioterapia homecare pode fazer pelos
seus pacientes. Possibilidades e pessoas dispostas e querendo trabalhar sempre
haverá... Tenho uma paciente grau II, de MMII E, que sua perna já se encontra praticamente no
mesmo diâmetro da outra, está sentindo dor ainda pelas fibroaderencias em
algumas amplitudes de movimento, mas estamos trabalhando nisso....
Bom amores...
isso é um pouquinho do meu trabalho e minha visão sobre esse rito de passagem
chamado câncer. O fisioterapeuta tem um papel lindo nesse rito, é o amigo-irmão
com o coração na mão, dia sim dia não, presente. Toda vez que vou atender
minhas queridas, penso no juramento que fiz no dia que me formei. Eu lembro que
minha mãe chorou, e eu achei que jamais conseguiria fazer o que estava jurando.
Ela sabia que eu faria. Acho que só ela sabia.